Autor: Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de Almeida
Meu amigo Newton Silveira, paulista de
Marília, fez carreira no BB Banco do Brasil concentrada no Paraná, indo de
Auxiliar de Escrita a Gerente Geral.
Faz um punhadinho de anos que ele está aposentado, depois de uma vida
dedicada ao Banco.
É uma grande figura humana, tendo sido um
funcionário dedicado, espirituoso e de um alto astral fora do normal, o que lhe
proporcionava grandes amizades que o tempo conseguiu preservar, como é
justo. Era o Newton chegado a dar uns
trotes nos amigos e colegas de trabalho.
Nisso era e é um mestre.
Lá pela década de 60 (não vou falar que é
no século passado porque é sacanagem!), na pacata cidade de Umuarama-PR, lá
estava o jovem Newton morando em república e trabalhando duro no setor de
crédito rural da agência local. Naquele
tempo o setor era o Setop – Setor de Operações Rurais.
Elegeu como vítima do trote, certa vez, o
amigo Décio Trute, português bonachão, gente finíssima, que era avaliador
(“avaluador” como se dizia na zona rural) autônomo que prestava serviço ao BB.
Naquele dia, o Setop estava lotado de
agricultores fazendo proposta de financiamento. Tinha até lista de espera, tanta era a
demanda. O Newton lá com sua Olivetti,
datilografando a proposta do cliente que estava sentado em frente à sua mesa. Serviço a mil por hora. Eis que nesse clima, chega o Décio – o
portuga – esbaforido de tanto andar no sol pelos sítios abrindo porteiras,
comendo poeira e coisa e tal. O Décio
chega, tira o chapéu e entra na cantina para
tomar uma água fresquinha.
O Newton, mesmo apurado no serviço, viu um
chapéu no balcão lotado de gente, levantou da mesa, foi lá, pegou o chapéu,
amassou, colocou no seu cesto de lixo, pisou em cima umas três vezes e depois
bateu as mãos como quem liquida uma tarefa.
Tava feita a sacanagem.
Nessa hora ele tinha perdido o Décio de
vista no meio da clientela.
Quando acaba de fazer a proposta e libera
o cliente que atendeu, este pede licença ao “seo” Newton, pega o chapéu no
lixo, pede desculpa por achar que não era permitido largar o seu chapéu no
balcão. Disse que não conhecia certas
manhas da cidade, da vida urbana... se
desculpando.
Como se diz no truco: desta vez o passador de trote “desbocou o
facão”, trucou em falso. Ou ainda,
como diz o piracicabano, “ mordeu a
chumbada”.
Se o Newton pudesse, de tanta vergonha,
faria como o Pluto do desenho animado, que enfiaria a cabeça por baixo das
pernas e sairia pela porta dos fundos, rasteirinho, com o rabinho
encolhido. Ou virar uma avestruz para
enfiar a cabeça no chão, sumir do mapa.
O Décio ficou sabendo do engano do Newton
e tirou uma casquinha ao menos daquela vez que, decididamente, foi o dia da
caça.