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domingo, 28 de abril de 2013

A CRÔNICA DA DITADURA NO BRASIL (E OS SEM NOÇÃO)



Autor:   Orlando Lisboa de Almeida      -  28-04-2013

     Sou de 50 e nasci na zona rural, filho de empregados de uma grande fazenda.   Muito cedo conheci a pobreza e também a riqueza de alguns.    Nesse tempo o empregado das fazendas tinha apenas o “direito” de trabalhar de sol a sol e nada mais.   Compras na caderneta, pagamento no fim do mês, sobrando quase nada para a próxima temporada.  O povo simples era movido à fé.  Muita fé e muita reza.   Com saúde a vida era disputada na raça e na doença as coisas se complicavam.    Duro até se deslocar para ir ao médico na cidade ou buscar o dito cujo com carrinho de animal.     Pagar taxi, só em caso de vida ou morte.
     Hoje se fala em pedir a conta do emprego e isto é uma banalidade do termo.  Naqueles tempos, pedir a conta era “afrontar o patrão”, era o pior dos desplantes contra o patrão.   Era duvidar de que o mesmo estava controlando o quanto o empregado tinha em haver e quanto devia.    Ainda não tinham nem pensado em inventar a transparência nas relações de trabalho.   Não se tinha acesso aos números, às anotações e então pedir a conta era afrontar, peitar e receber o que o patrão achava que devia, se achava e automaticamente o empregado era transformado em “despachado” do emprego.  Sumariamente.  Este mundo existiu e tem uma infinidade de gente em vida que presenciou e presencia isto ainda em alguns distantes rincões do país, infelizmente.
     Nesse clima o Brasil vivia os anos 50, 60.    Na Europa as relações de trabalho já eram menos cruéis e começavam a assoprar por aqui, inclusive com o advento dos imigrantes europeus que vieram trabalhar na roça no interior, uns leves ventos de reação a tudo isso.     Com a ajuda de ações e discursos dos socialistas que estavam trazendo um contraponto ao estado de coisas que não era bom aos camponeses no caso.   
     Falava-se em reforma agrária em benefício aos que sempre venderam sua mão de obra a preço tão baixo e que até então sustentavam suas famílias com tão pouco.   Quando esse povo estava com mais esperança em novos dias, perpetra-se contra eles a chamada “revolução” de 1964.      Um banho de água gelada na luta e na esperança dos trabalhadores urbanos e rurais.   Quem explorava iria continuar explorando e quem era explorado continuaria na de sempre.     E ainda chamaram isso de “revolução”.   
     Nos tempos da revolução, ou melhor, da Ditadura Militar, além da vida continuar difícil para os pobres que são a grande maioria do povo, ainda se perdeu o direito de cidadania das pessoas.    Não se tinha acesso a informações, não se tinha direito a reuniões, tempo de mordaça, bico calado.    Tempos de chumbo.     Muitos professores e intelectuais, só por se manifestarem contra o estado de coisas, foram banidos do País ou, o pior, foram torturados e executados.    Até militares que não compactuavam com o rumo tomado pela Ditadura, eram colocados na Reserva Remunerada.  Iam para o pijama compulsoriamente.     Portar debaixo do braço ou ler um livro de capa vermelha, já era um risco de ser perseguido.   Afinal, “comunista come criança”.     Na década de 60, eu já estudante do ginásio, migrante na Grande São Paulo, perdi o amigo e poeta Olavo Hansen.     Era um militante efetivo da causa comunista e sua arma era a caneta e o trabalho em gráfica engajada, onde se produzia material de propaganda da causa.    O Olavo Hansen virou uma das ossadas descobertas no Cemitério Clandestino do bairro de Perus na capital paulista, anos depois, no Governo Maluf se minha memória não falha.      Tempos depois, passados os anos de chumbo, restabeleceram o nome do Olavo Hansen, que hoje é também nome de Escola pública em Mauá-SP.  
     Falar aqui do que se fez em nome da “revolução” é chover no molhado pois está tudo bem documentado.      O que faz a gente ficar inconformado é ler na internet uma legião de gente que estudou inclusive até o terceiro grau, defendendo que melhor seria para corrigir as mazelas atuais do País, a volta da Ditadura com suas práticas de tão triste memória.   
     Nos informemos sobre nossa história recente, não nos conformemos com o que hoje não está bom e pode e deve melhorar e procuremos fazer a nossa parte.    Participemos mais da vida da nossa comunidade, vejamos o que fazem e o que não fazem os nossos Conselhos Comunitários e outras instâncias de participação.    Melhoremos o que não está bom, tudo dentro do que nos proporciona a Democracia.  Vale a pena e nossos descendentes agradecerão.

Um comentário:

  1. PARABÉNS.
    E OLHA QUE FOI ESCRITA ANTES DAS MANIFESTAÇÕES.

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