foto acima in: www.agroberto.com
EU PINCHO, VOCÊ BOLEIA, ELE BARDEIA
Engenheiro Agrônomo Orlando Lisboa de
Almeida maio/2003
(orlando_lisboa@terra.com.br)
Uma suada graduação na USP, uma temporada
de trabalho engravatado na Avenida Paulista em São Paulo , uma porção de
anos de docência e um emprego público concursado por longa data longe da
terrinha natal. Nada disso tirou da
gente o característico sotaque do Bairro Represa, zona rural do município de
Cerquilho-SP. Foram apenas dez anos na
terrinha e toda uma vida entre a grande São Paulo e o interior do Paraná, mas nada ofuscou o famoso sotaque que trago
intacto e que é uma marca registrada entre os amigos que me conhecem ao
telefone até pelo elementar alô.
Encaro o sotaque como parte de uma cultura
que tem o seu valor, mesmo nestes dias em que muitos autênticos valores andam
meio jogados para as traças.
Um dia, comentando com um velho amigo,
também colega de trabalho, que aprecia uma boa leitura e um bom bate papo,
estava eu relembrando alguns termos típicos da minha terrinha e ele me
recomendou um livro que tinha tudo a ver com nosso meio. Digo nosso, porque o amigo João Francisco é
paulista de Botucatu e também valoriza seu ninho. Diz que sua terra serrana é a terra das
moças da batata da perna roliça porque por lá, caminhar, é subir ou descer
morro. O físico fica em forma.
O grande amigo JF como chamamos,
recomendou que eu lesse algum livro do Francisco Marins, que retrata com muita
qualidade e cores bem definidas, a vida no interior paulista com sua gente, sua
política, sua economia, enfim, todo um modo de viver do interior de S.Paulo na
primeira metade do século 20. Li o
livro “O Grotão do Café Amarelo” e fiquei encantado com o reencontro com muito
da minha raiz e muito da raiz de tanta gente de uma vasta região.
Tenho o hábito de, lendo por prazer, fazer
algumas anotações daquilo que me chama mais a atenção. Anoto primeiro a lápis e depois passo num
caderno específico que se tornou já uma obra em três volumes, de muita estima e
de um valor subjetivo enorme, ao menos para mim. Claro que sempre citando a fonte, com todos
os dados possíveis.
Quem tiver a paciência de acompanhar
alguns dos destaques que anotei e que são o supra sumo da raiz da minha
terrinha, vai tomar conhecimento de um verdadeiro teste de origem. Não conhecer quase nenhuma das expressões
significa algo como ter pouco contato com gente do interior paulista. Conhecer algumas expressões, seria algo
como ter alguns amigos oriundos daquela terrinha. Conhecer muitas das expressões locais,
poderia ser sintoma de ter algum ancestral vindo de lá ou ter vivido algum
tempo no interior paulista. Conhecer
a esmagadora maioria das expressões típicas é forte sintoma de ser um dos tais
caipiras da sorocabana.
Vamos às palavras e expressões que achei que são a
fina flor da terrinha:
Tronqueira; a
varanda especada; o estrepe no pé da Bidinha;
Benzeduras; só
havia ali um facultativo; é loucura se apinchar por aí;
Sofria de
amarelão; sofria de espinhela caída;
sofria de bucho virado;
Taiuva; tuins;
pintassilgo; sanhaço;
Paçoca até que a
gente come! Gamelas; encangar duas
juntas de bois;
Abrir tora no
traçador; girau;
Guembês; hortelã;
coentro; untanha; catre; gretas na parede;
Untanha (no caso,
apelido) tarraca no pé; picuá; borná; baixeiro; pelego;
Roseta da espora;
cafundó do Judas; peneira de taquara trançada;
Polenta
requentada na chapa do fogão de lenha (do poiá);
Capa de tropeiro;
guaiaca; campear; cavalo marchador; cilhão;
Porteira de
varas; badana; o cavalo trocando orelhas; preá;
Fulano bardeia
alguma coisa; alimar; zagaia; encastoar
com embira;
Cão bernento;
cocão do carro de boi; fio (filho);
Simpatia para fio
macho:
dormir em cima do
couro de onça curtido para pegar
coragem;
Matar bugres e
usar as terras; quiçaças (uma das raras
com dois ç);
Ancorote (ou
corote); simpatia para desembuchar parto
difícil:
Carregar
espingarda, dar um tiro pra cima, depois botar água no cano
Da espingarda e
em seguida dar a água pra mulher que está gorda;
Mastro com os
três santos: Antonio, João e Pedro; pau de sebo;
Prenda; leilão;
rojão de vara; buscapé;
Bulir; capim
gordura;
Frase dos
republicanos dos primórdios da nossa república:
“Saúde e
Fraternidade”
Pinhão
Paraguai; porteira esconsa (ou esgonça);
Azulão; trempe do fogão; pito de barro (cachimbo);
Caraguatá; gorda (grávida);
sacos de aniagem;
Carro de boi
cantar; cabeçalho; canzil; cangas;
Bolear; café
Filipe; café incõe;
Polainas; café
crioulo; café bourbon;
Pelego; badana;
tala; rabo-de-tatu; açoiteira (suitera);
Intendência; “com
quantos paus se faz uma canoa”
Tempo
enfarruscado; arrodear; eito; pestana
(cílio);
Grupo do bode
preto; carrapatos-pólvora; micuim;
Homens xucros;
cavalo xucro; cavalo redomão;
Boi marruá;
desenxabido; desinxavido;
Tábuas gretadas;
réstia de luz do sol;
Tísicas; madeira
lavrada; lanhar no relho;
Mãe-de-leite; se
fiar; dar uma coça; curiangos;
Daninhar (criança
daninha); picumã; bodoque; arapuca;
Covo; pilão;
cuipé; monjolo; guatambu;
Suã de porco;
tigüera; pau piúca; cacunda; jururu;
Espeque; tramela;
encasquetar; cutelo; roupa puída;
Encafifada;
tapera; a muque;
atropelaram (mandaram embora);
Bule de café; sem
eira nem beira; gordura rançosa;
Banha na lata;
lingüiça no varal em cima do fogão;
Sujeito de
tutano; puxou o pai; borralho;
Encasquetar;
parelho (roupa); enfaixar o nenê;
Bulha; boi cor
araçá; “luto fechado”;
Arreliar;
investir; “que dê o toicinho daqui? “
Negacear; cafezal
de face boa do terreno;
Ditado: “que vão os anéis e que fiquem os dedos”
Não arredar pé da
palavra de homem;
O fio de bigode;
plantar mantimentos;
Camaradas; sino;
cerne; caieira;
Caieirinha na
cova do café novo;
Filhote de
passarinho novinho, olhos fechados;
Virado de frango
para viagem; matula;
Ditado: “o café dá a casaca, mas também pode tirar
até a camisa”
S.Paulo com
300.000 habitantes; Santos com peste bubônica;
Casimira; o patrão prefere perder tudo do que se socorrer
com os parentes
da esposa;
Rebotalho; Índios Coroados; bordoadas;
Tachos de cobre;
assistir na casa de parentes;
Embiras; cochar;
estourar bambu na fogueira;
Cavalo rosilho;
sol de estorricar; sol de rachar mamona;
Capado na
ceva; escuito; escuitar; gabar; gavar;
jacá; balaio;
Bardear;
petrechos; cólera-morbo; arrodeia; ringindo;
Ringindo os
tamoeiros (vô Luiz);
Saracoteios;
coreto; cateretê; juá bravo; procissão; andores;
Rescender; quá o
quê!; judiação; cusarruim; aparelho de bolso;
Binga; isqueiro;
cavadeira; feijão mulatinho; cainhou;
Fumo de corda;
espingarda pica-pau; escorva;
Estrumar;
cambuiada; garrucha; presilha do lenço de boiadeiro;
(cita uma
presilha entalhada em chifre, com forma de cabeça de boi);
maiar feijão;
decoada para sabão de cinza; boticário;
Já era escaldado;
parelha de burros; coaieira; ajustar conta;
Não mover uma palha...; bulir; cambetear.
Quando houver
tempo e conseguir localizar, devo ler do mesmo autor:
“... E a porteira
Fechou” e “Clarão na Serra”
( Francisco Marins
é de Pratânia-SP e publicou vasta obra, mais de
2 milhões de
exemplares vendidos; traduzido para espanhol;
inglês; húngaro;
afrikander).
eu realmente conheço poucas!!!! e as q eu conheco foi de ouvir vc falar, hehehhe
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