Quando eu morava em Mauá-SP e estudava no colégio, já gostava de uma boa leitura e nesse tempo livro era menos acessível do que hoje em dia. Tínhamos na cidade uma única biblioteca do "Seo Dito", com uns poucos milhares de livros meio antigos que circulavam entre os "sócios" que tinham carteirinha e frequentavam a biblioteca. Nada de biblioteca pública e gratuita. Pois quem não tem cão, caça com gato. Andei lendo um punhado de livros lá da biblioteca que me parece que se chamava Grêmio Cultural Monteiro Lobato.
Um livro em especial me chamou a atenção pelo protagonista que era uma peça rara. O personagem existiu e residiu no Rio de Janeiro no tempo da Rua do Ouvidor e dos escritores famosos que por lá circulavam pelos cafés do local. O personagem que deu nome ao livro "No tempo de Paula Ney" tinha como nome completo Francisco de Paula Ney. Era um nordestino bastante irreverente e culto que frequentava os Cafés onde se concentravam os escritores em particular e artistas em geral. Paula Ney veio do Pernambuco para o Rio de Janeiro com a missão de fazer faculdade. Pela mãe, ele deveria fazer medicina porque ela achava que a profissão era o máximo. Para o pai, melhor que estudasse Direito, que dava também muito status e poderia abrir as portas para uma carreira política ao filho. Mas o Paula Ney acabou entrando no curso de Medicina, só que na maior parte do tempo fazia política estudantil e os jornaizinhos abordando temas da vida de estudante. De lá, acabou indo parar na redação dos jornais do Rio, onde escreveu muito e era respeitado como intelectual. O curioso é que era da roda dos escritores, sem nunca ter publicado um livro sequer.
Consta que o Paula Ney era muito espirituoso e fazia muito trocadilho no improviso. Alguns dos seus trocadilhos acabaram ficando conhecidos porque foram anotados em guardanapo de bar por seus colegas e amigos. Muitas das suas peripécias acabaram resultando no livro acima citado que traz como protagonista o escritor que não deixou livro escrito.
Paula Ney, pelo que consta no livro onde é personagem, apesar da vida meio boêmia, um dia se casou e teve um filho. Mas o destino quis que o filho um dia caísse doente e os médicos não conseguiram reverter o quadro. O menino veio a falecer, o que causou enorme transtorno ao pai, que teve uma recaida e abandonou a vida de casado e voltou à boemia. Para agravar tudo, ainda, com os conhecimentos esparsos de medicina, descobriu que teria havido erro médico no atendimento ao seu filho. Amargura, boemia e ia tocando a vida.
Uma das suas tiradas famosas veio um dia quando um amigo lhe perguntou como ele se virava quando ficava doente. Ele respondeu sem pestanejar.
Ora! Quando eu fico doente eu vou ao médico e pago a consulta, porque o médico precisa viver. Com a receita, passo no boticário e compro o remédio, porque o boticário precisa viver e quando chego em casa, jogo o remédio pela janela, porque eu também preciso viver...
Este era o Paula Ney, por esta e muitas outras. Bom que alguém botou episódios da sua vida para que nós pudéssemos conhecer um pouco mais da época e das pessoas do lugar.
este aih era homem sabido
ResponderExcluir;-)
naum se fazem mais como antigamente