O SESC é pródigo em nos propiciar momentos agradáveis como estes, em que os escritores da região e de mais longe nos visitam para um bate papo muito agradável e criativo com o público. Vou aqui citar dois casos, pois tem de certa forma algo de semelhante no detalhe do ponto de vista.
Um dia estava nos visitando o Domingos Pelegrini, escritor e jornalista londrinense. Disse que quando era criança, lá pelos seis anos, visitou o Maringá Velho, bairro aqui de Maringá, lá pelos idos de "cinquenta e pouco" quando aqui era pouco mais que uma vila de Mandaguari, com um pouco de exagero da minha parte. E ele notou que no comércio lotado onde o pai conversava com algumas pessoas, da altura dos seus seis anos, enxergando as pessoas na altura da cintura dos adultos, percebeu que praticamente todos os marmanjos ali portavam um revolver na cintura. Ele ficou abismado com aquilo. Mal chegou em casa em Londrina e perguntou para o pai porque ele não usava revolver, já que todo mundo que ele viu usava. Criança é observadora. O escritor sempre tem um olhar mais detalhado para o mundo ao seu redor - desde criança!
Um dia mais recente, novamente no SESC Maringá, estavam presentes num evento de literatura os escritores Fabricio Carpinejar e Alice Ruiz, esta que é poeta e também tem feito muitas letras de música e já foi e esposa do poeta Paulo Leminski. No meio da prosa, sobre o senso de observação do escritor, ele citou o caso de um parente que esteve como preso político no passado no Norte do Brasil. Disse que o preso ficou mais de um ano num quase calabouço, com o teto pouco acima do solo e podia ver uma fresta da rua. Por essa fresta, por todo o tempo de prisão, só conseguia ver os pés e os sapatos das pessoas que por lá passavam. Foi "estudando" o perfil de cada um. O apressado, o indeciso, o relaxado e por aí vai.
Pois bem. São dois fatos do passado, inusitados, vistos com um olhar de observador. Achei interessante.
orlando_lisboa@terra.com.br
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