Por – Eng.Agrônomo Orlando Lisboa de
Almeida
III – TEMPOS DO CURSINHO PRÉ VESTIBULAR –
NO MED RUA AUGUSTA
Fiz o Cursinho pré vestibular em 1972 em
São Paulo no período noturno. Tempo
puxado, sem tempo para sair do trabalho como bancário em Mauá-SP e embarcar
direto para São Paulo. Banco até 18 h e
o trem partia 18:32 rumo à estação da Luz, onde eu pegava um ônibus no rumo da
Consolação, perto da Augusta. O foco
era vencer a etapa e ingressar na universidade e o desafio era passar na USP –
na ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba-SP e uma
das razões de ordem prática era que eu não poderia estudar em período integral
em outro lugar por falta de recursos.
Tinha que ser em Piracicaba, onde residia e reside minha irmã casada que
deu o apoio logístico para eu vencer essa batalha. E assim foi.
Nesse ano era foco total no trabalho de
bancário e no cursinho à noite e assim foi feito. No vestibular, consegui passar na ESALQ-USP
que era meu sonho e em março de 1973 estava eu lá me matriculando para o curso
que na época era de quatro anos em regime integral. Agora, com o curso e estágio, são cinco
anos. Curso de Engenharia Agronômica.
IV – O TEMPO DE UNIVERSIDADE (1973-1976)
A ESALQ foi fundada em 1901 e em 1934
quando a USP foi fundada, a ESALQ passou a integrar aquela universidade. Minha turma, de 1976 foi a do Jubileu de
Diamante, nos 75 anos do Campus de Piracicaba.
Na ESALQ os cursos eram em período
integral e a mesma era dotada de marcante tradição de luta dos estudantes. A repressão do regime militar rondava por lá
de forma dissimulada. Tive inclusive em
parte do curso um colega de turma que passou uma temporada fazendo o curso e
tendo surgido do nada, desapareceu do nada sem deixar notícia. Suspeitou-se que o mesmo era olheiro da
repressão.
Fui do CALQ, o Centro Acadêmico Luiz de
Queiroz, mas na diretoria ocupei por breve tempo a modesta diretoria de
patrimônio, a que não se envolvia de forma direta na agitação estudantil. Os líderes eram de classe média alta para
cima e tinham mais respaldo econômico da família para eventual crepe perpetrado
pela repressão. Eu, filho de operário,
não tinha esse cacife e ia até onde podia chegar na luta estudantil, mas
acompanhei a moçada dentro do possível.
O líder mais destacado da minha turma era o José Maria Jardim da
Silveira, que fez carreira brilhante na
Academia, sendo professor na UNICAMP no topo da carreira, sempre na área
de Humanidades. O hobby dele até hoje é
a montain bike.
Nos tempos da repressão um dos poucos
modos que nós estudantes tínhamos de tentar nos contrapor aos desmandos da
Ditadura era fazer recortes de jornais que traziam algum texto mais
esclarecedor e fixar o artigo no mural do RU Restaurante Universitário para
toda a galera ler.
Outra forma de reação que foi criada em
Piracicaba, que sempre foi inclusive uma grande cidade universitária, foi a
criação do Salão do Humor de Piracicaba em 1973, no ano que comecei o curso na cidade. Os grandes cartunistas do Brasil em geral e
de São Paulo e RJ em particular (a turma do Pasquim e muito mais)
participaram. Foi um sucesso
marcante. O cartum era sempre, na
época, um grito de protesto contra a Ditadura, com engajamento, humor e arte.
Na atualidade o Salão de Humor de
Piracicaba é uma referência no setor e tem abrangência internacional, o que já
vem de longa data, por sinal.
Na MPB na época faziam sucesso no meio
estudantil e no meio artístico em geral músicos “engajados” na luta contra a
repressão como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e
outros. Canções memoráveis. Conseguiam jogar um facho de luz na
obscuridade dos tempos de chumbo da Ditadura, dando algum alento e voz à
juventude rebelde, que lutava por democracia.
Me formei em 1976 e em 1977 entrei no mercado de trabalho como Engenheiro
Agrônomo em Umuarama-PR, distante 820 km da minha Mauá-SP, trabalhando como
assessor técnico no Banco Mercantil de São Paulo, onde permaneci três anos e
depois fui para Londrina pela mesma empresa por mais um ano. Houve então um concurso específico da minha
área no Banco do Brasil em 1980 e eu fui aprovado e então foram 32 anos de
BB. Em resumo, mesmo depois de formado
em 1976, ainda a Ditadura estava vigente no Brasil e causou grandes danos a uma
geração que viveu a mesma e tem seus desdobramentos em gerações seguintes que
tem que reaprender a participar mais da vida em sociedade, buscando agir com
cidadania por um País melhor. Lutei e
luto por isso e acredito no Brasil e busco, com as modestas armas que tenho,
dessa empreitada. É ter prioridade na
busca do bem comum e participar de todos eventos possíveis onde o bem comum
estiver em pauta. É de suar a camisa mas
vale a pena. Assim os filhos e netos
não poderão, jamais, nos chamar de omissos.
(Ongueiro desde sempre)
orlando_lisboa@terra.com.br