crédito da foto: http://en.wikipedia.org/wiki/Porto_Alegre
RESENHA DO LIVRO - A VIDA QUE NINGUÉM VÊ
Autora do livro: Jornalista Eliane Brum (editora Arquipélago – 2006)
Quem fez a resenha: Orlando Lisboa de Almeida (sem uma técnica
definida)
Como costumo lembrar, gosto da leitura e
tenho o hábito de, paralelamente, ir fazendo uma resenha daquilo que mais me
tocou na obra para poder partilhar com amigos que gostam de ler. Então fica assim como um “petisco” para
convidar a pessoa a procurar o livro e ir fundo no texto, lendo tudo na
íntegra.
O livro antes foi elaborado em crônicas
editadas no jornal Zero Hora de Porto Alegre e foi premiado com o Prêmio Esso –
Regional Sul e depois o livro recebeu em 2007 o Prêmio Jabuti na modalidade
reportagem. A jornalista é fera no
ramo.
Fez uma série de crônicas tiradas “das
ruas” de Porto Alegre, mas tudo isso tem algo de transcendente como poderemos
ver adiante.
Página 14 - O do prefácio..... “ máxima de que, em jornalismo, a história só
existe quando o homem é que morde o cachorro”. Os textos dela mostram que nem sempre é assim.
42 – Bela crônica sobre o demente Geppe Coppini de Anta
Gorda-RS. Muitas reflexões sobre as
pessoas “normais” e as que são vistas como nem tanto.
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54 – “Há duas maneiras de visitar um
zoológico: com ou sem inocência.” Fala
da liberdade, da condição humana, etc.
56 – “A revelação dessa visita subversiva
ao zoológico é que, no cativeiro, os animais se humanizam. O cárcere lhes arranca a vida, o desejo e a
busca”.
“E mais e mais vão se parecendo com os
homens que os procuram na certeza de um álibi.
Perigosa é a pergunta. O que
aconteceria se você encontrasse a chave do cadeado invisível da sua vida?”
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79 – O menino Salatiel, vulgo
Tierri. “ E desde novo notou-se nele
uma cabeça boa para as coisas do coração, desapegada das praticidades da vida.”
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106 – Outra crônica, outro personagem...
“Se fosse levar a sério, descobriria que é analfabeto. Como decidiu que a distância entre a
realidade e a liberdade é um cabo de vassoura...”
(o rapaz, adulto, anda de cavalinho de
pau pela Expointer do RS há anos seguidos)
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126 – Sobre a menina pedinte nas ruas
“Você, que paga seus impostos em dia,
colabora com a campanha do agasalho, que é um cara até bacana. Subitamente transformado em réu no tribunal
do sinal fechado por um rosto ranhento de criança.”
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136 – Mãe pobre do interior, analfabeta,
vários filhos pequenos, que deixa o marido (após convidá-lo para migrar) indo
para a cidade grande na busca de aprender ler.
Na entrevista com a autora deste livro:
“ – Depois de ler a folhinha da igreja, o
que a senhora quer ler?
- Eu quero ler em quem eu vou votar. Até agora fui pelos outros. Agora, quero ler, analisar e votar.” A da frase: Maria Alicia de Freitas, 55 anos.
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137 – O Velhinho dos comerciais de TV (David Dubin – judeu polonês)
Vive a muitos anos em Porto Alegre e
escapou do holocausto. Uma história de
vida e tanto.
“... David descobriu que sua família não
havia sido morta pelos nazistas. Eles
haviam sido apenas os mandantes. Sua
família foi morta pelos melhores amigos, pelos vizinhos de porta. Pelos ucranianos e lituanos que dividiam o
seu bairro miserável”
(cidade de Pinsk, Polônia)
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158 -
Sobre um velho álbum de fotos achado na rua jogado.
“É um álbum desordenado, todo ele. Como são as vidas. Essa é, em parte, a diferença entre a vida e
a literatura, onde os personagens, por mais irreverentes, fazem todos um
sentido na trama. Na vida, não.”
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188 – A autora refletindo sobre a vida e
obra
“Quem consegue olhar para a própria vida
com generosidade torna-se capaz de alcançar a vida do outro. Olhar é um exercício cotidiano de
resistência.”
190 – Ela cita como exemplo de jornalismo,
Gay Talese, o Papa do Jornalismo.
191 – Sobre a profissão de repórter:
“É preciso calar para ser capaz de escutar
o silêncio. Olhar significa sentir o
cheiro, tocar as diferentes texturas, perceber os gestos, as hesitações, os
detalhes, apreender as outras expressões do que somos. Metade (talvez menos) de uma reportagem é o
dito, a outra metade o percebido. Olhar é um ato de silêncio.”