No capítulo anterior, eu fiz uma abordagem geral sobre Alcântara-MA e como chegar lá a partir de São Luis. Neste, vamos detalhar um pouco do que vi por lá, acompanhado de um grupo de turistas com um guia local (Juca).
O nome da cidade fundada pelo português Jerônimo de Albuquerque (1648) está relacionada a São Matias de Alcântara, que deve ser o santo do dia da fundação da cidade. Isto era uma prática comum dos portugueses colonizadores.
Logo após o desembarque do barco, próximo ao cais, há um pequeno Centro de Informação aos turistas com acomodações básicas e a apresentação de DVD mostrando um vídeo institucional da cidade e seus atrativos. Não custa lembrar que (tendo ido avulso), já que cheguei, notei uma banca onde o pessoal estava colocando numa listagem o nome para o embarque da volta. Eu tinha comprado já os bilhetes de ida e volta, mas para ficar bem garantido, deixei o nome na lista. Deu tudo certinho.
Logo após o desembarque, se vê em frente uma rua que sobe uma colina e esta é a principal rua da cidade colonial portuguesa. Rua calçada com pedras e mosaicos de pedra sabão que dão um contraste pelo tipo das pedras. A pedra sabão é de um tom cinza e por não ser tão dura, vai ficando polida e bem lisa com o tempo e talvez por isso tem o nome de pedra sabão - a cor e o fato de ser lisa.
As soleiras das portas de muitas casas por lá tem uma peça de pedra sabão polida pelo tempo. A grande maioria das casas históricas são térreas e usou-se muitas pedras na construção, além de outros materiais.
Há algumas ruinas de casarões que ruiram parcialmente com o tempo e a falta de manutenção e várias delas estão previstas para serem restauradas. Uma delas, à direita da Rua do Jacaré (a rua principal já citada), foi o casarão com um andar onde morou o promotor e jurista Clovis Bevilaqua (natural de Viçosa-CE) que inclusive publicou no início do século XX um livro na área do Direito.
Por que rua do Jacaré? É que no tempo da lamparina, antes da eletricidade, o querosene que queimava nas lamparinas para clarear as casas vinha de barco e subia em latas ladeira acima. Querosene da marca Jacaré (da Esso). E tinha o jacaré estampado na lata.
A cor da água do mar no percurso é diferente do mar aberto e seria, segundo o guia, por conta da foz de dois rios que desaguam no mar nessa região e as águas demoram para se misturar até pelas diferentes características. (Rio Itapecuru e Rio Mearim)
CAPELA DAS MERCÊS (1803) Em destaque no final da subida da rua do Jacaré. Uma igreja pequena, quadrada, telhado em quatro "águas", pintada de branco com detalhes em azul. A igreja estava fechada e tinha tapumes por dentro das janelas de forma que não dava nem para espiar os altares pelas frestas. Ficamos na curiosidade.
IGREJA DE NOSSA SRA.DO DESTERRO (de 1714) - (A dos sinos do lado de fora) - Também só vista por fora. Fica logo à direita da Capela das Mercês para quem sobe a ladeira. A vista do mar no local é muito bonita e se vê inclusive uma ilha próxima com bela praia. Diferente do que já vi, os dois sinos ficam num espaldar (tipo portal) do lado da igreja e dá para alcançar com a mão o badalo dos sinos. Disse o guia que o pessoal do lugar, ao querer "descasar", batem três vezes no sino maior e pronto! Está descasado. E se quer formalizar nova união, duas badaladas no sino menor e pronto! Está casado com a outra. Simples assim!
PRÉDIO DA ANTIGA CADEIA - HOJE PREFEITURA - Uma construção bem típica, com um andar, ampla, do lado direito da praça da matriz. Mantem as grades nas janelas até para preservar o seu valor histórico. O guia brincou que lá no tempo de cadeia, era povoada pelos bandidos e agora como prefeitura, com os políticos.... não mudou nada. Guia bem humorado é sucesso dobrado.
RUINA DA IGREJA FEITA PELOS JESUITAS - IGREJA DE SÃO MATIAS DE ALCÂNTARA - É certamente, no centro da praça principal, o mais destacado prédio do período colonial português local. Tem em frente um pelourinho (para punir escravos) feito em mármore com detalhes em relevo. A igreja é feita principalmente com pedras, paredes largas, construção sólida. Por falta de manutenção, desabou aproximadamente dois terços da obra, mas a fachada frontal está inteira e é muito imponente. Deve ser do século XVII. (1648)
Segundo o guia, a atriz Marieta Severo e o staff da Globo gravaram cena nessa praça para a novela Da Cor do Pecado.
Logo à esquerda, na travessa da praça, o casarão onde morou o poeta Souza Andrade. Formado em Letras em Sorbonne na França e fez Engenharia de Mina no exterior. Deixou obras editadas.
RUINAS DOS PALACETES DOS BARÕES - Barão de São Bento e Barão de Mearim. Consta que ambos eram rivais e esperavam a visita do Imperador do Brasil à cidade e cada um tentou fazer um Palacete mais amplo e luxuoso pensando em assim conquistar a primazia de receber o Monarca. Visita que nunca se efetivou inclusive pela disputa e pela decadência da economia local no século XIX.
MUSEU - NA CASA ONDE FOI DO BARÃO DE SÃO BENTO - Fica do lado esquerdo da praça e vale a pena uma visita com calma. Lá tem guias específicos do Museu que explicam as peças do acervo e assim dá para entender um pouco de como vivia a nobreza local na época. Louças, prataria, utensílios domésticos, quadros com retratos pintados a óleo e muito mais.
Das peças do museu a que mais curiosa eu achei foram uns ferros de mais ou menos 1,20 m de altura, com um semi arco na ponta. Seria para os nobres, ao assistirem alguma festa na praça, poderem apoiar o cotovelo no suporte, para descanso na posição em pé.
Citado pelo guia que Josué Montelo, filho ilustre do Maranhão, entre outras obras, deixou escrito o livro "A Noite sobre Alcântara". Um dos turistas falou que desse autor há outra obra curiosa sobre a cultura popular do Maranhão: "Os Tambores de São Luis" - dica do professor Sergio (de Educação Física), paranaense que está trabalhando no Maranhão.
BASE DE LANÇAMENTO DE FOGUETES DE ALCÂNTARA - Fica afastada do centro histórico e o que se visita é um local ao lado da Igreja do Rosário dos Pretos. No local é um pequeno Museu da Base e eles passam um vídeo institucional sobre a mesma. Local com poltronas e ar condicionado.
PALÁCIO PRETO - Ruina do que foi o Mercado de Escravos. Prédio de pedras, imponente, cujas paredes resistiram a ação do tempo.
IGREJA DO CARMO - Data de 1665. Está em atividade como igreja, é aberta à visitação pública. Tem por dentro, no piso e em certos lugares das paredes, os restos mortais de nobres e religiosos do passado do lugar. Fotografei uma lápide onde estava escrito entre outras homenagens, que fulana e ciclana "Morreram Donzelas" aos sessenta e poucos anos de idade.
RUINA DO CONVENTO DAS CARMELITAS - É enorme e fica anexo, do lado direito da Igreja do Carmo. Das paredes deste sobraram parte com altura média de um a dois metros. Impressiona pelo tamanho que tinha o convento.
IGREJA DO ROSÁRIO DOS PRETOS - Em atividade, muito bem conservada, com o galinho português na ponta da torre, toda pintada de branco. A pracinha da frente da igreja está num local onde teria sido, segundo o guia, um cemitério de escravos.
As visitas em geral ficam restritas à área histórica e não vimos a parte do comércio local. Assim sendo, não soube se há no centro comercial restaurantes um pouco mais completos para atender os turistas e nem uma visão do dia-a-dia do povo local. Mas o passeio foi muito interessante.
orlando_lisboa@terra.com.br
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