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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

MENTIRA TEM PERNA CURTA

As pisadas na bola ou o ato de "morder a chumbada" como se diz em Piracicaba, geralmente acontecem com os outros, nunca com a gente, claro! Mas as regras estão aí com suas exceções. Era pelo ano 70 e eu estava terminando o colegial noturno no Colégio Viscondão em Mauá-SP e na roda de amigos tinha o Luiz Longo, um dos gêmeos da família, que tinha e tem parentes em Florai-PR que para mim naquela época deveria ficar fora do Brasil, alguns milhares de quilômetros. Hoje, nem tanto. Um dia, jogando conversa fora no intervalo das aulas, o Luiz me convidou para um dia visitar sua Florai, terrinha natal. Eu aceitei a proposta no ato. Vamolámeu! E passa o tempo, chega o fim do ano e eu entro em férias no trabalho e no colegial e saio dar um giro pelo centro de Mauá. Meu mano gozador dizia que Mauá não tinha centro, a não ser o Centro Espírita. Mas tinha o bar ABC que era no olho do furacão da cidade, perto da estação do trem. Formigava de gente cedinho e à noitinha, gente indo e vindo do trabalho do vizinho ABC e em maior número de São Paulo, distante apenas uns trinta quilômetros.
No centro de Mauá, dou de cara com meu amigo Luiz e ele, sabendo que estou em férias, trata de cobrar a ida ao Paraná. Acertamos os detalhes, tomamos o ônibus dali a alguns dias e pimba! Botei o pé pela primeira vez no Paraná, começando por Maringá, vindo descer na velha rodoviária local, que atualmente está lá desativada. No guichê, fomos procurar passagem para Florai, que agora ficava pertinho. Só que ônibus, só amanhã, nos informaram. O jeito era arranjar um hotel simples, pousar em Maringá e partir no outro dia cedo para Florai. Meu amigo vai na banca de revista e fica faceiro porque tinha uma jovem cuidando da banca. Ele pede a informação e ela nos dá a dica de um certo hotel na Av.Herval (H.Touring). Era e é um hotel "bem" simples! Acho que a fachada é de alvenaria e nas laterais parece que as paredes são de tábua. Mas em 70, para dois jovens estudantes... Guardamos as bagagens e antes do banho, nos tira o sossego uma batida policial procurando alguém. Não chegamos a ver os guardas, mas escutamos a prosa. Achamos que o lugar estava de astral muito baixo e voltamos para a portaria e pedimos baixa do hotel e rapamos fora. Meu amigo Luiz resolveu que passaríamos lá na moça da banca e pediríamos a dica de um "bom" hotel, ora bolas!!! Assim decidido e assim foi feito. Ela nos indicou o que suponho ser o fino da raça na época. O Hotel Indaiá, que era bem menor do que é hoje. Partimos para o Indaiá, já à noite. Muitos viajantes no hotel, bom movimento.
Meu amigo Luiz, extrovertido pacas, levou cachimpo na viagem e não fumava. Dava umas baforadas desajeitado, umas tosses e uns abanos na fumaça. Levou um violão e também não sabia tocar o raio do violão, encordoado para pessoa destra, sendo que o Luiz é canhoto desde que veio à luz. Tamamos o banho no hotel e viemos para a beira da calçada ver o movimento da rua e o Luiz com o cachimbo na boca e o violão no braço. Mas nada de música. Os viajantes se aproximaram e pediram umas músicas e nada. Um deles, velho no trecho, perguntou se o amigo poderia emprestar um pouquinho o violão para o Danúbio - seu amigo de viagem - que manjava da arte. Pois o Danúbio também era canhoto e tocava o violão com as cordas invertidas para ele, arranhando as cordas de baixo para cima com uma rara habilidade. O homem sabia tudo de violão. Foi um auê. Ficamos amigos da turminha que estava viajando num Dodge Dart, carro esportivo da época.
Papo vai, papo vem e o cabeça de área do grupinho de viajantes nos perguntou de onde a gente era. Naquele tempo se dizia que gente de Mauá era índio em relação ao pessoal da Capital. Então em algumas ocasiões os de Mauá saiam pela tangente, dizendo que eram de... de... Santo André!!! É isso, de Santo André!
Então veio o inesperado. O viajante falou. Ora, ora, então somos meio vizinhos, de que rua de Santo André vocês são? Nós somos da Editora da Lista Telefônica e conhecemos TODAS as ruas de Santo André.
Eu tinha um tio que era do Corpo de Bombeiros de São Paulo e que morava na Rua Vicente de Carvalho, no bairro Príncipe de Gales em Santo André. Tasquei o nome da Rua e o viajante falou o bairro e disse que a rua ficava ao lado da Faculdade do ABC, como de fato.
Essa foi uma bela lição para os dois novatos. Uma bela pisada na bola!

4 comentários:

  1. Olá, Orlando, meu bom camarada!
    Estou lutando para aprender a me comunicar com vc por este recurso...
    Guenta aí!

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  2. Que legal primo ! ! ! Bela história, que prende a atenção da gente até o final. lembro da casa do tio Vicente em Sto André, mas não sabia em que bairro ficava. Vc tem uma ótima memória.
    Abração.

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  3. hahahaha, adorei a historia! quase morderam a chumbada eihn? :-p
    bjss

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  4. Meu Amigo
    Adorei essa história.
    Os detalhes com que você detalha os detalhes é maravilhoso(ufa, quantos detalhes em mano).
    Parabens.

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