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quinta-feira, 11 de março de 2010

Escavações Literárias - Termos da minha terra

Eu sou prosa, mas gosto de ler um bocadinho nas horas de folga. E fazer uns rabiscos...
Um dia eu estava comentando sobre palavras e expressões que se usam numa região e nem são conhecidas em outras. Um dia vi um motorista catarinense numa lanchonete falando de um cachorro e dizendo que ele não tinha cola. Cola para ele é rabo.
Um dia, falando disso com meu amigo JF João Francisco, paulista de Botucatu, ele me disse que ia trazer um livro de um conterrâneo dele para que eu lesse. O livro se chama O Grotão do Café Amarelo e o autor, Francisco Marins. Livro da Ed.Melhoramentos, 1973. Fiquei surpreso ao saber pela obra, que o autor já publicou mais de 2.500.000 exemplares dos seus livros em vários idiomas, inclusive um tal de "afrikaans". O livro é ambientando no interior de São Paulo dos anos 20 e é recheado de termos usuais na minha terrinha natal - Cerquilho - SP, rota de tropeiros no passado. Para mim, ler a obra, além do tema em si que me agradou, foi uma volta ao passado pelas expressões que há tempos não ouvia.
Deixando um pouco as ditas palavras de lado, vou centrar fogo numa breve passagem do livro, que deve ser ficção. Dizia que havia uma pequena freguesia, um lugarejo, onde o povo era muito católico e tinha a igrejinha que o pessoal frequentava. Era o tempo das "irmandades", cada uma com sua peculiaridade. E cada grupinho não se dava muito com outro, afinal cada um era dono da razão e não se misturava. Mas um dia, chegaram ao consenso de que a igreja estava pequena e resolveram unir as forças para construir uma maior. Feita a obra com o esforço de todos, quando ia ser inaugurada a obra, deu curuca. Uma irmandade dizia que a nova igreja seria dedicada - claro! - a São Roque, o padroeiro daquela irmandade. A outra irmandade já ficou em pé de guerra. Tinha que ser São José, sem dúvida! E virou um impasse.
Até que um gaiato deu uma idéia inusitada: Vamos decidir numa aposta. Vamos todos para a igreja e o padre vai dar o sermão. Se ele falar mais de São Roque, vai ser ele e se falar mais de São José, que seja São José. Combinado, combinado...
O padre, não sabendo de nada, tem como tema do dia a Sagrada Família. Tava feita a baba... Era São José pra cá, São José pra lá e no sermão só dava o Santo, de Nove a Zero!!! E a turma de São Roque foi abandonando a missa...
O padre chamou o sacristão e na surdina perguntou o que houve. O sacristão avisou que a culpa era do padre e explicou no pé da orelha. O padre, disfarçado, continuou o sermão, com voz firme e forte para os de dentro e os de fora da igreja ouvirem:
Meus caros irmãos. Nunca devemos nos esquecer que São José era carpinteiro. A vida dele era trabalhar na carpintaria, no serrote. Era roque, roque, roque... (até empatar o Nove a Nove entre S.José e São Roque). Nisso a confraria de São Roque voltou para a igreja.
Para tirar um dez, o padre deu um sermão geral no pessoal por causa da aposta e decidiu: Nossa igreja terá padroeiro em rodízio. Um ano é São José e no outro é São Roque...
E assim todos ficaram felizes para sempre...

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