CAMINHANDO À PÉ PELAS AVENIDAS
RIO BRANCO E ITAPARK EM 1965
Eu morava na Vila Bocaina em
Mauá-SP nessa época. Vamos dar uma
pequena caminhada no tempo para relembrar um pouco das lembranças que tenho
desse percurso da Estação de Mauá até onde eu morava, que ficava ao lado de
onde tinha um tanque do lado direito da Avenida Itapark, após o chamado
barrancão. Percurso tentando resgatar
como era esse percurso visto no dia-a-dia da época. A Avenida Rio Branco já era feita com
calçamento de paralelepípedos (pedras justapostas), que eram comuns nas
pedreiras de Mauá da época. Era calçada
porque fica na região central e por ser “corredor” de ônibus urbano. A Avenida Itapark que segue na continuação
da Avenida Rio Branco ainda não tinha nem calçamento. Era chão batido mesmo. Poeira quando estava seco e barro nos tempos
das chuvas e garoas. E olha que garoava
em Mauá quando tinha muito mais mata por lá.
Então vamos andando. A Estação era e deve ser quase o marco zero
da nossa cidade e ao lado dela tinha o Ponto de Taxi número 1. Os carros pretos mais antigos já estavam
sendo substituídos pelos DKV Vemag se minha memória não falha. Na Rio Branco, quarteirão da Estação, havia
casas “amarelas” da RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. Casas dos empregados da Estrada de Ferro,
cada uma com o recuo da rua, jardim na frente, espaço nas laterais e
quintal. Coisa rara na Mauá de hoje.
Ainda nesse primeiro quarteirão, do lado
oposto à Estação, ficava a garagem da Turismo Bozatto, cujos ônibus usualmente
faziam principalmente as linhas fretadas de levar os trabalhadores às grandes
indústrias da região.
Em seguida, a Concha Acústica da Praça
XXII de Novembro e logo em seguida, uma ponte sobre o Rio ou Córrego
Tamanduateí que nesse ponto saia do terreno da ferrovia e passava pela Praça XX
de Novembro e seguia adiante. Na
praça, dos dois lados do córrego, carreiras de Chorão, aquelas árvores de
galhos pendentes quase até o chão.
Ao lado da praça, os pontos de ônibus para
ligar o trem com o acesso aos bairros.
Seguindo a Avenida Rio Branco, logo após a
praça, do lado direito, espaço da calçada, só que em chão batido, havia uma
barraquinha de vender doces. Era uma
barraca pra lá de tosca e nunca me encorajei de comprar algo lá, mas a barraca
era parte da paisagem. E por ali a Rio
Branco segue meio que divisando com a ferrovia e havia uma cerca de tela que
sempre tinha lugares com cipó de flores azuladas ou violetas, planta silvestre,
que estava sempre presente na cerca. Do
outro lado da cerca (hoje é tudo muro) se via o Córrego que tinha em sua margem
o chamado Capim Fino, muito comum na beira da água na região.
As casas de moradia e comércio
desse lado da Avenida Rio Branco começava pelo Bar do Avelino. Seguindo um pouco mais, antes do que hoje é
o viaduto da Saudade, do lado direito de quem sobre centro-bairro, havia um
grupo de casas de alvenaria muito antigas e uma delas era dos Brancalion. Lá morava o Laercio Brancalion, nosso
conhecido. Por ali tinha o Mercado do
Delpoio e mais algum comércio. Nesse
trecho antes do atual viaduto, do lado esquerdo, tinha um barranco elevado e
havia o resto da construção de uma estrutura que me parece que foi de uma
pedreira. Ali haveria no passado uma
máquina britadora de pedras.
Logo em seguida, à direita, a
quase chácara onde moravam duas senhoras da família Pantano, ambas
doceiras. Faziam divisa com o terreno
onde ficava a Indústria Brasileira de Pigmentos, que soltava uma fumaça
carregada de enxofre que era o Caldeirão do Capeta. A fábrica ficava abaixo do nível da Avenida
(que ali já seria Itapark, eu acho) uns oito metros e a fumaça saia das
chaminés lá em baixo e pegava a gente passando
à pé na avenida, no maior sufoco.
No tempo chuvoso ou de garoa ficava mais difícil a fumaça subir e
sufocava mais ainda. Nem mato nascia
no barranco do lado esquerdo da avenida ao lado da Pigmentos.
Terminando o terreno da Pigmentos, à
direita, havia um local onde nasciam pequenas nascentes (atual mercado
Onitsuka, suponho) e eram terrenos baldios, com caminhos para passar à pé. Era o caminho mais comum para quem ida da Vila
Bocaina à Porcelana Real.
A Rua General Osório, que desce do
Viscondinho até a Avenida Rio Branco nesse trecho era de chão batido. Nem calçamento de paralelepípedo tinha, pois
por ali não passava ônibus.
Depois vinha o Depósito de Materiais de
Construção do Coppini, Bar do Renzo com o campo de bocha, bem frequentado pela
terceira idade da época. Em seguida, o
Barrancão, sendo que houve corte de barranco no passado (ali seria trilho de
vagões para transporte de pedras em outros tempos) e a Avenida Itapark passava
pelo trecho com alto barranco dos dois lados.
Em seguida, umas casas do lado direito e um tanque que teria surgido
quando aterraram o local para ficar plano e então represou a baixada do lado
direito, formando o tanque. Quando eu
conheci o local, já tinha o tanque que posteriormente foi aterrado e chegou a
ser pátio de uma Companhia de Limpeza Urbana. A Pioneira, que meu mano, pelo odor que o
local tinha, chamava a empresa de “Pioieira”.
Nesse percurso passava ônibus e seguia
adiante rumo ao Falchi e outros bairros, contornando à esquerda lá na frente,
passando por outros bairros até sair na Avenida Barão de Mauá lá no rumo de
quem vai para o Itapeva.
Em resumo, esse era um cenário que
tínhamos na época em que eu tinha lá pelos 15 anos de idade e ia à pé da Rua
Duque de Caixas, quase esquina com a Avenida Itapark, até o Viscondão, num
percurso de uns dois ou mais quilômetros, com poeira, barro e muita garoa e
ruas não tão iluminadas. Foi um período
duro, mas foi uma fase da juventude onde as amizades foram formadas e valeu a
pena tudo isso, com toda certeza.