MEMÓRIA DO PARQUE DAS AMÉRICAS –
MAUÁ – SP (ANOS 60/70)
Orlando Lisboa de Almeida orlando_lisboa@terra.com.br
Tenho dito que cheguei aos 11 em Mauá no
ano de 61. Digamos que lá pelo ano
de 1965 já dava umas voltas pela vizinhança.
Já fiz uma crônica sobre as Avenidas Rio Branco e Avenida Itapark dos
anos 60, no que consegui me recordar. Desta vez, vou pegar o trecho de onde tem o
viaduto da Saudade, cujo nome se liga à Avenida da Saudade, na Vila Vitória,
que passa pelo cemitério com o mesmo nome.
Por falar nisso, bom lembrar que em frente ao Cemitério da Saudade tinha
um quarteirão desocupado e lá era o campo de futebol do Vila Vitória, time
amador de grande tradição na Vila. Nos
domingos, campo sem gramado, tinha jogo quase o dia todo. Não tinha como maltratar o gramado.
Voltando à rua que segue ali pela
Indústria Pigmentos (Uniroyal) no rumo do Jardim Santa Lídia e na sequência,
Parque das Américas. À direita da rua, a linha do trem que não era
cercada no passado. Havia no trecho
entre o local de onde hoje tem o viaduto, até lá perto da Porcelana Real, ao
menos três pontos onde os pedestres atravessavam a linha para ir à Vila
Vitória. Um local era para ter acesso à
Avenida da Saudade, outro era um pouco depois da Indústria de Pigmentos e o
terceiro era lá perto do Bar do Carlão, já bem perto da Porcelana Real. Lembrando que o Córrego Tamanduateí passa
por ali e então era atravessar a linha do trem e a pinguela sobre o córrego,
que já era bem poluído, inclusive com pó
branco da louça da Porcelana Real.
Após a Pigmentos, a rua tinha do lado
direito a linha do trem e do lado esquerdo, uma série de casas de alvenaria bem
antigas, cujas paredes eram na divisa com a rua. E por ali, um lugar baixo, perto do córrego,
bastava chover para ficar um punhado de dias cheio de poças de água.
E tinha até um senhor que criava um pequeno rebanho de cabras nesse
trechinho de rua, bem perto da Pigmentos.
Era a Mauá de 30.000 habitantes dos anos 60.
A cidade era povoada mesmo até o Jardim
Santa Lidia nesse trecho, digamos até a direção da Porcelana Real. Depois da Porcelana, seguindo no rumo de
Ribeirão Pires, ainda havia muito verde, chácaras diversas, quase nada de casas
e comércio. Era o Guapituba, quase uma
zona rural.
Voltando ao trecho da Pigmentos seguindo
rumo ao Santa Lidia, como foi dito, após a Porcelana Real, onde hoje é o Parque
das Américas, era mato e córregos. Mato
que se estendia à frente e à esquerda e se ligava ao Mato da Aliança, lá pelos
lados da Avenida Itapark, na curva desta, depois do Falchi e Jardim Salgueiro.
Por falar em mato e córregos, às vezes eu
ia por lá cortar capim para o cavalo que meu pai mantinha na Vila Bocaina nesse
tempo. Pois tinha no local onde hoje é
o Parque das Américas uns córregos pequenos e bem rasos, de água cristalina na
qual se via com muita freqüência, os girinos dos sapos, nadando em bando.
E chegamos a ver, para nossa surpresa, pequenos
camarões de água doce, de aproximadamente um centímetro e meio. Até então não sabia que havia camarão que
vive na água doce. Hoje por lá os
córregos devem estar poluídos e canalizados, mas é o preço da ocupação, se bem
que na atualidade a lei exige que se preserve os chamados Fundos de Vale, para
preservar a água, a flora e fauna.
Suponho que foi no início da década de
setenta que abriram o loteamento do Parque das Américas e aquilo foi um
furor. Num instante a mata foi sendo
ocupada por casas e mais casas, o comércio foi florescendo também por lá e em
poucos anos o lugar tomou a forma que
evoluiu para o que temos na atualidade.
Não é à toa que, segundo dados da
Prefeitura de Mauá, em 1950,
a cidade tinha 9.472 habitantes; em 1960, 28.924
habitantes; em 1970, 101.726 habitantes e 1980 eram 206.700 habitantes. Grosso modo, triplicou de 50 a 60, também triplicou de 60 a 70 e duplicou de 70 a 80. A olhos vistos, até 1970 a cidade se espalhava
pelas partes mais baixas e começava a se expandir pelas encostas dos morros,
mas os morros em geral ainda eram cobertos pela mata. Se via isso olhando do centro para o lado do
Magine, na entrada do Zaíra, para os morros da esquerda e direita e assim por
diante. Depois as moradias escalaram os
morros e não sobrou lugar nem para os córregos correrem sossegados. Como diria o personagem Chicó: “Só sei que foi assim”.
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